
Superfly foi o único de Mayfield a chegar ao primeiro lugar das paradas. Era a trilha sonora do famoso filme de Blaxploitation e denunciava exatamente aquilo que a fita corria o risco de glorificar. A sinfônica "Little Child Runnin' Wild", em tom menor, pinta um retrato pessimista da vida na cidade, com seus crescendos dramáticos dando lugar, em seguida, a "Pusherman". Construída em torno de uma hipnótica linha de baixo e batuques de conga, essa reportagem em primeira pessoa sobre o cotidiano das ruas prenuncia o Gangsta Rap, lembrando que a música foi sampleada por Ice-T em "I'm Your Pusher", de 1988. A arrebatadora "No Thing On Me (Cocaine Song)", influenciada por ritmos latinos, é um poderoso manifesto contra as drogas, mas os melhores singles são "Freddie's Dead" - esse desenho pungente, à base de flauta, de uma personalidade, chegou ao quarto lugar. Muita gente aqui no Brasil vai lembrar fácil desta faixa, pois foi sampleada e imortalizada na faixa "Mano Na Porta do Bar" do Racionais MC's (álbum Raio-X do Brasil, 1992) e faixa "Give Me Your Love (Love Song), sampleada pela diva Mary J. Blige (não me recordo o nome da faixa neste momento).
Mayfield nunca mais alcançaria o sucesso comercial deste disco - There's No Place Like America Today, de 1975 (já abordado pelo blog anteriormente), é uma pérola pouco valorizada. Em agosta de 1990, uma tragédia: Curtis ficou paralizado do pescoço para baixo, devido a queda de um equipamento de iluminação sobre ele. O suave e gigante contestador da música do século 20 saiu de cena em 26 de dezembro de 1999, aos 57 anos, nos deixando o seu grande legado e talento.
[Estou ouvindo: Ed Motta - Entre e Ouça]
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