13 de abr. de 2009

Sly & The Family Stone - There's a Riot Goin' On


O Rock-n-Soul alegre e multirracial do Sly & The Family Stone refletia o otimismo do movimento pelos direitos civis durante os anos 60. Mas, à medida que esse otimismo definhava e ia se transformando num radicalismo amargo, o Stone passava por uma experiência parecida - uma dolorosa viagem espiritual. O pessimismo já não era mais estranho ao fusion-pop criado por Sly: "Hot Fun In The Summertime", por exemplo, falava, de maneira cifrada, dos distúrbios raciais em Watts. Mas a crescente desordem civil e a carnificina no Vietnã, aliados ao seu frágil estado emocional e a doses maciças de drogas, o levaram a fazer este álbum, um impressionante discurso à nação.

O disco foi resultado de sessões e overdubs intermináveis; movido a cocaína, Stone gravava e regravava as fitas. Dizem que Miles Davis participou com seu trompete; a bateria acústica brigava por espaço com primitivas baterias eletrônicas; o baixo se sobrepunha, predatório; e as guitarras wah-wah feriam os ouvidos. O funk-pesado que domina o álbum - nebuloso, assustador e chapado - empresta uma pungência extra às faixas pop meleancólicas do disco, "Runnin' Away" e "(You Caught Me) Smilin'" - momentos de ternura para aliviar o funk furioso. Há referências a hits anteriores de Sly, como em "Time" ("Everyday People' looking forward to a simple beating"), ou a transformação do single "Thank You" no lento estertor da faixa final, rebatizada como "Thank You For Talkin' To Me Africa", a melhor do álbum.

Este diagnóstico doloroso e preciso dos males dos Estados Unidos e da própria desintegração espiritual de Sly afastou muitos fãs e marcou o início da derrocada embalada por drogas do artista. O álbum permanece, porém, brilhante, um grito funky e machucado de uma alma sob extrema tensão.

[Estou ouvindo: Baby Huey & The Baby Sitters - Hard Times]

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